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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Na ilha por vezes habitada

(José Saramago pelas lentes do fotógrafo Sebastião
Salgado)



Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.


O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.


Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.


Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.



José Saramago
*16/11/1922
+18/06/2010

domingo, 13 de junho de 2010

Seu Namorado



Cantarei hoje uma canção bem diferente
Uma canção canora, franca e dedicada
A um alguém de uma sorte delicada
Quão delicado é o amor que ora sente

De que agruras, esta alma se ressente
E quais as pedras que encontrara na estrada
Que a inibem de antever a alvorada
De uma vida que ela agora não pressente?

Há de encontrar, eu creio sim, seu namorado
Há de viver, eu creio sim, um grande amor
Que a felicite e seja enfim o seu amado

Que a realize e que elimine a sua dor
Cantando sempre uma canção de seu agrado
Em qualquer dia, seja lá qual dia for!



José Antônio Gama de Souza-Balzac

Leopoldina, MG, 12 de junho de 2007.

Me Encante


Me encante da maneira que você quiser,
como você souber.
Me encante, para que eu possa me dar
Me encante nos mínimos detalhes
Saiba me sorrir, aquele sorriso malicioso e gostoso,
inocente e carente


Me encante com suas mãos, gesticule quando for preciso,
me toque, quero correr esse risco.
Acarinhe-me se quiser, vou fingir que não entendo,
que nem queria esse momento


Me encante com seus olhos, me olhe profundo,
mas só por umsegundo, depois desvie o seu olhar,
como se o meu olhar, não tivesse conseguido lhe encantar....

E então, volte a me fitar, tão profundamente,
que eu fique perdida sem saber o que falar...

Me encante com suas palavras, fale-me dos seus sonhos,
dos seus prazeres, me conte segredos, sem medos ...
e depois me diga o quanto eu o (a) encantei.

Me encante com serenidade, mas não se esqueça,
também tem que ser com simplicidade,
não pode haver maldade

Me encante com uma certa calma,
não tenha pressa, tente entender a minha alma.

Me encante como você fez com a primeira namorada, sem subterfúgios, sem cálculos,
sem dúvidas, com certezas.

Me encante na calada da madrugada,
na luz do sol ou embaixo da chuva.

Me encante sem dizer nada ou até dizendo tudo,
sorrindo ou chorando, triste ou alegre ...
mas me encante de verdade, com vontade ...
que depois, eu te confesso que me apaixonei
e prometo lhe encantar todos os dias,
do resto das nossas vidas.


(Pablo Neruda).

Ideal




"tem gente
que é tão doce
que se mais fosse

era poesia"


Luiz F. Prôa

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Prenúncio



Sou a sombra do que deseja
explosão, duma ilusão infinda
vil arcanjo e não seu anjo
candura e paz pura tão renhida

Sou a alma tão pungente
que lhe domina, fogo lírico de seu pecar
mas, não sou seu devaneio
nem pão do centeio para degustar

Sou andorinha sem ter verão
sou a contramão de seu caminhar
a denúncia do que submerge
ponte que caiu pra seu naufragar

Sou assim prenúncio de seu desaviso
louco impreciso ante a indecisão
e, neste ajuste que por hora é farto
pouco caso ou nada que imaginar...


Marçal Filho
Itabira MG

domingo, 6 de junho de 2010

Que saudades!



Que saudades suas é esta?
Não é uma saudade qualquer,
mexe com meus sentidos
faz de mim o que quer


Quando sem tí eu ficar
quero por perto estar,
sabedor que a distância
é pequena,tenho a calma, por dentro,
pois sei que a qualquer momento
posso a saudade, matar


Saudades assim é tortura
que machuca até a razão,
fica-se perdido no mundo,
inquieta-se ,a cada segundo,
judia da gente, por dentro
aperta, e muito o coração


(Roldão Aires)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos



Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...


Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!


Mario Quintana

A Florista



Suspensa ao braço a grávida corbelha,
Segue a passo, tranqüila... O sol faísca...
Os seus carmíneos lábios de mourisca
Se abrem, sorrindo, numa flor vermelha.

Deita à sombra de uma árvore. Uma abelha
Zumbe em torno ao cabaz... Uma ave, arisca,
Bem perto dela pelo chão lambisca,
Olhando-a, às vezes, trêmula, de esguelha...

Aos ouvidos lhe soa um rumor brando
De folhas... Pouco a pouco, um leve sono
Lhe vai as grandes pálpebras cerrando...

Cai-lhe de um pé o rústico tamanco...
E assim descalça, mostra, em abandono,
O vultinho de um pé macio e branco.


Francisca Júlia da Silva

(In Mármores – 1895)